
Para Edília que tem medo de dizer: “Eu te amo”. Nem que seja por brincadeira.
Ele não poderia entender por que depois de tudo que passaram juntos ela subitamente surtou, e como despertando de um pesadelo, ela saiu correndo para o aeroporto e logo anunciou sua despedida, que viria nas próximas 24 horas. Sua nova vida, que iria levar dali para frente apesar da bela casa em Spring Village, das compras maravilhosas em Bond Street, dos sofisticados artesanatos em Convent Garden e das viagens pelos países vizinhos, tão belos, tão aconchegantes e tão frios no inverno, seria um risco e a deixava ansiosa e ao mesmo tempo relaxada. Paradoxo. A vida, um grande paradoxo. Deixaria o Walter e a Cory seus dois empregados que tanto a amavam cuidando da casa, largaria seus casacos maravilhosos porque em sua nova terra não precisaria deles; esqueceria aquele glamour todo à beira da piscina quente e coberta, e sua estufa de flores dos trópicos à cuidados alheios; sentiria falta das aconchegantes conversas e da excelente qualidade intelectual de seus interlocutores, a começar por Mr. Thompsom, catedrático de Oxford e o homem com quem dividiu a cama por três longos anos e de quem nada podia reclamar: sua galanteria, sua voz doce, seus gestos econômicos, a elegância de um verdadeiro Lord. Só levaria junto com ela Spyke, o cão Terrier, pois sem ela o cãozinho certamente morreria de inanição, e ela precisaria de uma companhia alegre nos primeiros meses de separação. Toda partida é um se partir, é algo que fica e outro que vai para sempre. Impossível qualquer reconciliação futura, os cacos juntados jamais formam o mesmo vaso.
Ele tentou rememorar sua vida conjugal e pessoal, descobrir onde errara, e por mais que tentasse não encontrava explicações para a atitude dela. Chegou a pensar em teorias raciais descabidas, justo Mr. Thompsom, vejam vocês, tão correto em sua ética humanística, em sua retórica clara e lúcida, em sua lógica inteligente. Procurou reconciliar os fatos com os estudos antropológicos dos povos de além mar, se esforçou em aceitar a situação pelo prisma da psicanálise, e até arriscou uma pesquisa nos anais da revista de fisiologia da Universidade, a fim de encontrar alguma resposta, digamos, mais física aos problemas dela.
Mr. Thompsom jamais entenderia o postal que recebera de Olinda, Pernambuco, Brasil:
“Meu amado e querido Henry, muito lhe devo por tudo que sou, por tudo que fui e por tudo que serei! Despertaste em mim a essência de meu ser, de minha terra, de minha gente! Não basta ser amada, é preciso ser desejada. Hoje eu sei!”
“De quem jamais te esquecerá”.
Mr. Thompsom esboçou um sorriso e se fez uma lágrima. No fundo, jamais entenderia aquele jeito “tão Brasil” de ser.
Ele não poderia entender por que depois de tudo que passaram juntos ela subitamente surtou, e como despertando de um pesadelo, ela saiu correndo para o aeroporto e logo anunciou sua despedida, que viria nas próximas 24 horas. Sua nova vida, que iria levar dali para frente apesar da bela casa em Spring Village, das compras maravilhosas em Bond Street, dos sofisticados artesanatos em Convent Garden e das viagens pelos países vizinhos, tão belos, tão aconchegantes e tão frios no inverno, seria um risco e a deixava ansiosa e ao mesmo tempo relaxada. Paradoxo. A vida, um grande paradoxo. Deixaria o Walter e a Cory seus dois empregados que tanto a amavam cuidando da casa, largaria seus casacos maravilhosos porque em sua nova terra não precisaria deles; esqueceria aquele glamour todo à beira da piscina quente e coberta, e sua estufa de flores dos trópicos à cuidados alheios; sentiria falta das aconchegantes conversas e da excelente qualidade intelectual de seus interlocutores, a começar por Mr. Thompsom, catedrático de Oxford e o homem com quem dividiu a cama por três longos anos e de quem nada podia reclamar: sua galanteria, sua voz doce, seus gestos econômicos, a elegância de um verdadeiro Lord. Só levaria junto com ela Spyke, o cão Terrier, pois sem ela o cãozinho certamente morreria de inanição, e ela precisaria de uma companhia alegre nos primeiros meses de separação. Toda partida é um se partir, é algo que fica e outro que vai para sempre. Impossível qualquer reconciliação futura, os cacos juntados jamais formam o mesmo vaso.
Ele tentou rememorar sua vida conjugal e pessoal, descobrir onde errara, e por mais que tentasse não encontrava explicações para a atitude dela. Chegou a pensar em teorias raciais descabidas, justo Mr. Thompsom, vejam vocês, tão correto em sua ética humanística, em sua retórica clara e lúcida, em sua lógica inteligente. Procurou reconciliar os fatos com os estudos antropológicos dos povos de além mar, se esforçou em aceitar a situação pelo prisma da psicanálise, e até arriscou uma pesquisa nos anais da revista de fisiologia da Universidade, a fim de encontrar alguma resposta, digamos, mais física aos problemas dela.
Mr. Thompsom jamais entenderia o postal que recebera de Olinda, Pernambuco, Brasil:
“Meu amado e querido Henry, muito lhe devo por tudo que sou, por tudo que fui e por tudo que serei! Despertaste em mim a essência de meu ser, de minha terra, de minha gente! Não basta ser amada, é preciso ser desejada. Hoje eu sei!”
“De quem jamais te esquecerá”.
Mr. Thompsom esboçou um sorriso e se fez uma lágrima. No fundo, jamais entenderia aquele jeito “tão Brasil” de ser.
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